sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Luíz Horácio: Perciliana e o pássaro com alma de cão

Luiz Horácio é um grande amigo, estudou comigo no curso de Letras da Universidade Estácio de Sá. É crítico literário, escritor, roteirista de cinema e gaúcho. Lançou recentemente seu primeiro romance “Perciliana e o pássaro com alma de cão” (Editora Conex, 2006). Escreve para o jornal Rascunho (http://rascunho.rpc.com.br/index.php) e outros sites.
A seguir alguns poemas e uma crítica do romance.


Escrevo porque sou um covarde, escrevo porque não sei amar, escrevo porque meus sonhos me acordam, escrevo porque a ausência me machuca, escrevo porque tenho medo da morte, escrevo porque aprendi a sofrer, escrevo porque detesto a palavra esperança e pra fugir da palavra lembrança, escrevo pra não voltar a ser criança, escrevo pro meu pai, escrevo pra uma mulher que eu vi criança, escrevo porque tenho medo de dormir sozinho com a luz apagada, escrevo pra poder acordar, escrevo pra aprender a amar, escrevo pra fugir, escrevo mesmo sabendo que não irão me respeitar.


BECOS E SAÍDAS
Por teimosia e covardia sobrevivo
enquanto a cidade transpira fumaça e medo
Insone, mal respira saturada de sons
Sangue filtrado na hemodiálise permanente
Das tvs a cabo e computadores
Sabor mudo e voz amarga
A cidade implora por socorro
Teme a jovialidade de seu mar
Feito louco escrevo mais um livro
Quem se atreverá a lhe falar de amor?



Mía soledad
nacio conmigo
traendo voracidad
miedo y prisa.
Cuando pensé
haberla olvidado
suyas alas gigantes
ya ensombreciam mi alma
Ahora
cuando todo que me gusta
me hace llorar
las horas
transbordan adioses
mientras los pájaros
llueven colores
yo te quiero
pero mía soledad
aconseja serenidad
no decirte “te amo”
pues la he perdido.



Aún así
El extraño
hombre envejecido
estaba solo,
dibujava
en la sombra
de la noche prisionera
su juventud,
apretando el dolor
contra
las ventanas cerradas.
Quisera
no haberle visto
más que las manos,
ojos del adiós,
como si fueram armas.
Ya no tenia
ningún interés
ya no lloraba
estaba solo
repitiendo aquella
indomable noche
aún así
amaba.

Com a alma de Veppo - Francisco Dalcol
Escritor gaúcho radicado no Rio lança livro em que faz referência ao contato que teve com o poeta Prado Veppo em Santa Maria.
Texto retirado de http://www.olobo.net/index.php?pg=colunistas&id=532

No livro Perciliana e o Pássaro com Alma de Cão, o leitor poderá ser surpreendido pelo nome de um personagem. Quem conhece um dos grandes nomes da literatura santa-mariense não escapará da dúvida que aparecerá na página 54: o menino Veppo guarda alguma relação com o escritor Prado Veppo (1932-1999)?

Não é por acaso que o escritor Luíz Horácio Rodrigues, 49 anos, resolveu dar ao personagem o nome do poeta e médico nascido em Porto Alegre e que adotou Santa Maria como lar familiar, profissional e inspirador. O autor de Perciliana e o Pássaro com Alma de Cão nasceu em Quaraí e hoje vive no Rio de Janeiro. Nos anos 70, passou por Santa Maria e acabou conhecendo o poeta que até hoje o acompanha nos rumos que sua vida ganha:

- Prado Veppo era meu professor de literatura no cursinho pré-vestibular em Santa Maria. A figura dele logo me chamou a atenção, por ser uma pessoa que se vestia de branco e ensinava com tanto amor. Mas era algo que eu não sabia definir. Eu gostava muito do jeito com que ele falava sobre literatura, com propriedade e simplicidade. Era o que eu queria ser - conta Horácio, cuja família vive hoje em Rosário do Sul.

Como aluno e professor, os dois nunca haviam tido maior contato. Até que, em um dia de 1977, Horácio passava pela Dr. Bozano e viu Prado Veppo caminhando.

- Fui correndo à Livraria do Globo e comprei o livro Espada de Flor, do Veppo. Saí e fui atrás para ele autografar. Até hoje guardo o exemplar - conta.

Além do personagem Veppo, obra traz a dedicatória que autor ganhou do poeta

O autógrafo também ganhou referência no mesmo capítulo em que é apresentado o personagem Veppo em Perciliana e o Pássaro com Alma de Cão. Na página 49, Santiago (pai de Veppo) ganha do pai Hildebrando um livro que havia conseguido com a dedicatória do autor - não revelado na trama (leia ao lado).

Horácio usou a mesma frase escrita por Prado Veppo em 1977 no livro Espada de Flor, porém adaptada ao personagem: "Ao Santiago, na esperança de que sempre tenha tempo para a literatura e na expectativa de que este livro não seja uma perda de tempo."

- Logo depois do meu contato com Veppo, parti de Santa Maria e perdi o contato dele - recorda Horácio.

Já nos anos 80, ele voltou a topar com Veppo, mais uma vez caminhando. Foi na Rua da Praia, em Porto Alegre. Após 15 anos, quando começou a escrever, Horácio viu a dedicatória se tornar realidade.

- Pedi para meu pai descobrir o telefone do Prado Veppo. Liguei e disse que eu o amava e que ele era muito importante na minha vida. O Veppo respondeu algo tipo "como assim?", "estou muito velho para ouvir esse tipo de coisa". Depois, quando fiquei sabendo que havia morrido, fiquei muito triste. Mas tive uma grande satisfação, pois pude dizer a ele o que sentia e que havia aprendido a lição. Ele continuou sendo uma pessoa muito importante para mim.

Um comentário:

Anônimo disse...

... desejando festejar com o autor, a beleza, sensibilidade e mistério, revelados na crônica da ZH, do último domingo, onde ele fala 'nas origens do pampa', estou à cata da compra do livro, e de pronto admirado pela pequena amostra, ... Cleanto Farina Weidlich - advogado em Carazinho RS.